segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Ainda persiste o ranço lampiônico...

Numa destas minhas idas e vinda ao trabalho, em um “carro de linha” que corta o sertão de Jacobina a Irecê, ouvi um caso de assassinato narrado por um companheiro de viagem, que desencadeou mais uma cisma... Contava estupefato o caso de um motorista de caminhão que cruelmente assassinou o frentista de um posto de combustível por mísero um real.
A história é que o motorista chegou ao posto de combustível e queria usar o sanitário. O frentista argumentou que liberaria a chave do recinto mediante o pagamento da quantia. Conversa vai e vem, argumentos trocados de um e de outro, o motorista dirigiu-se ao carro e voltou de lá com uma peixeira, deu três facadas no frentista, fugindo em seguida. Eis o fato. Fiquei chocada como todos os outros passageiros, mas uma observação feita por um dos viajantes foi a gota d’água... A morte em vão também, mas isso infelizmente é para nós corriqueiro: morrer por nada já é quase normal!
O motivo de minha cisma então, veio do seguinte comentário: “O motorista assassino era paraibano, você sabe né, esse povo do norte ainda nessa época de tanto progresso ainda tem mania de achar que tudo pode, é povo ignorante, tudo virado Lampião!”.
Nessa hora, respirei fundo, pensei calada por uns dois minutos e disparei uma pergunta ao grupo: Como foi mesmo que o motorista matou? Foi após uma discussão por causa da chave de um sanitário não foi? Estavam nervosos... Como será que foi o dia desse homem? O que será que o frentista disse que o ofendeu tanto e o tirou do sério? O que aconteceu naquele breve instante para um trabalhado sair do sério e estragar a própria vida e tirar a vida de alguém?
A polêmica se formou: “A senhora professora tá defendendo assassino? Tá justificando ele ter matado um inocente? Ainda quer que ele tenha razão?
Respondi: Não quero dar razão a ninguém, quem mata não tem razão alguma, nada justifica tirar a vida de ninguém. Só peço agora que pensem o seguinte: Que educação e como são as pessoas lá do sul, do sudeste e dos países desenvolvidos que diariamente planejam friamente a morte dos próprios pais, o abuso a crianças inocentes, os crimes cibernéticos, os grandes golpes à sociedade? Em quem será que essas pessoas se inspiram, tem algum modelo tipo Lampião inspirando essas pessoas? Será que o motorista matou por ser paraibano? Isso não acontece em São Paulo? Ah, aqui também no nordeste não tem prostituição infantil, pedofilia e corrupção? Quem é mais perverso, quem age por impulso ou quem planeja o ataque friamente?
Olhei em volta e vi uma confusão de cores: caras branco-pálidas, sorrisos amarelos, bochechas vermelho-fumegantes e eu com meu verde náusea...
Quando é que nós vamos perceber que pessoas são pessoas e por fim subjetivas aonde quer que vivam, no nordeste ou no sul do Brasil? Não é a nossa localização geográfica que nos move. Vamos dar uma trégua a Lampião na hora de justificar as atitudes nordestinas seja ele para nós herói ou bandido...


ranço
[Do adj. lat. rancidu, ‘rançoso’, substantivado.]
Substantivo masculino.
1.Alteração que o contato com o ar produz nas substâncias gordas e que se caracteriza por cheiro forte e sabor acre.
2.Bafio de coisa velha ou estragada.
3.Fig. Aquilo que tem aspecto ou caráter antiquado; velharia.
4.Bras. Fig. Pessoa desagradável, antipática.
Adjetivo.
5.V. rançoso.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Sobre a Música e a banalização do Ser Humano...

Ultimamente eu ando muito inquieta com a música, principalmente a brasileira, que é cantada na língua que posso bem compreender. Além é claro de estar inquieta com vários outros comportamentos humanos. Dia desses, até dei um chilique em casa e perguntei para um grupo de jovens visitantes se na coleção musical que eles tinham à mão não havia nada que não me reduzisse a um monte de dejetos, até usei um palavrão, pois tinha intimidade suficiente com os meninos para perder a compostura... Era um tal de mexe isso, esfrega aquilo, um palavreado chulo tipo tarraxinha, tcheca... de um mal gosto que poucas vezes eu imaginei ouvir em casa. Acabei sendo desagradável e pedi para me pouparem da audição.
Então nasceu mais um cismamento: Até onde vai o desrespeito da pessoa pela pessoa? Onde vamos chegar com a desvalorização do ser humano? Até quando aceitaremos passivamente sermos xingados, esculhambados, reduzidos? Sim, digo nós, pois as músicas são criadas por gente como nós e por nós são aceitas... Se elas fazem sucesso é por caírem em nosso gosto. Nós compramos os CDs, ouvimos em alto e bom som, pedimos nas rádios, cantamos, divulgamos...
É interessante que mesmo quando temos consciência de tudo isso, alguns bem próximos a nós nos deixam perplexos ao “sem maldade alguma” ouvirem e apreciarem tais músicas. “Ah, é só curtição”, “Tem hora pra tudo e essa hora é de esquecer das coisas sérias e deixar o balanço nos levar”, “Ah, você tá ficando velha e anão entende as coisas da juventude, deixa os meninos”... Escuto tudo isso e penso: Eu também já fui criança e já fui adolescente e já consegui sacudir melhor meu corpo e me equilibrar melhor no espaço, mas tenham Santa Paciência!!!! Nunca dancei o que não me permitisse sentir alguma coisa que não fosse prazerosa... Musica é para embalar, a vida, os sonhos, os desejos, emoldurar projetos, fazer recordar e vislumbrar. Música não é para me ofender, dizer que eu não presto e me transformar em subprojeto humano... Eu me envergonho em ouvir algumas músicas!
Admito: Eu tenho dificuldade em olhar para a cara de minhas sobrinhas, pois eu não tenho filhas, quando determinadas “musicas” estão sendo tocadas no ambiente em que estamos. Eu gostaria de poder ser mais forte que a mídia e ensinar ao meu filho o valor que tem uma mulher e seu amor. Eu queria entender o que acontece na cabeça de alguns pais que permitem e incentivam a felicidade de seus filhos os embalando alegremente com alguns tipos de grunhidos que alguns chamam música.
Ajudem-me a elaborar esse cismamento, sem preconceitos, sem falsos moralismos, apenas buscando a valorização do que somos. Podemos trazer aqui questões teóricas (filosóficas, antropológicas, sociológicas, psicológicas...), fiquem à vontade...