quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Eu, o mundo, a verdade, o bem e o mal. Enfim, noite de insônia e elucubrações!


Poucas vezes tive insônia na vida, durmo bem sempre... Ontem foi um desses dias inéditos, questionadores da existência humana na Terra. Pensei que o tempo e a idade teriam acalmado meu coração, mas as revoluções silenciosas de minha alma, se fazem a cada dia mais presentes, bastando apenas um pequeno motivo para virem à tona e remexer minha suposta paz. Senti-me qual Hamlet de William Shakespeare. O crânio humano não estava em minhas mãos, mas pude contemplar alguns crânios em todas as edições jornalísticas do dia, os de D. Pedro e suas esposas. E, por costume e necessidade, tenho espelhos em casa para contemplar meus próprios olhos nas horas duvidosas. “Ser ou não ser, eis a questão.” 
No emaranhado das horas que não passavam, andei recordando umas aulas de filosofia que tive no Ensino Médio, quando um professor que posteriormente foi também meu professor no Ensino Superior nos chegou com uma pergunta que a princípio não provocou a reflexão que hoje faço: O homem é bom ou ruim? Interessante que o próprio professor após muito insistir em nossas respostas sem sucesso, pois naquela época tínhamos medo de dar a “resposta que o professor não queria ouvir”, ou seja, tínhamos medo de errar, nos fez acreditar que “o homem nasce bom e o mundo o corrompe”. Recordei Heidegger em Introdução à Metafísica: “A filosofia nunca torna as coisas mais fáceis senão apenas mais graves”. A filosofia nos obriga a pensar e o exercício de pensar por si mesmo é a arte das artes, exige antes de tudo sensibilidade, treino intelectual e também disciplina corporal, pensar requer postura. Existem pessoas que afirmam que pensar dói. Será? Só o ato de pensar nos permite vislumbrar o mundo tal qual ele é, confrontar a realidade intima e profunda. A partir daí nos atirarmos aos projetos relacionados à nossa existência no mundo. 
Penso dolorosamente na definição que damos a mundo. Não seria o mundo a união ou a desunião dos homens? Esse tal mundo não são os homens que fazem? Então quem corrompe o homem senão ele mesmo? Evoco Marx “As abelhas constroem colmeias tão perfeitas que poderiam envergonhar a mais de um mestre-de-obras. Mas o pior mestre-de-obras é superior à melhor abelha porque, antes de executar a construção, ele a projeta em seu cérebro”. Ou seja, nós premeditamos, o mais santo de nós premedita. Podemos até fingir nossa natureza por um tempo, mas não a vida toda. O tempo faz com que nos revelemos e nos dá oportunidades e motivos de mostrarmos quem realmente somos: Bons por vezes, ruins se necessário. Ser bom ou ruim depende da verdade no momento buscada. Sim, por que a verdade nos “liberta”, nos valida e nos justifica. Muitas vezes quando alguém se dirige a mim buscando que eu diga a “verdade” tenho um leve impulso de perguntar qual a verdade se quer saber: A minha ou a de quem pergunta? Sei que a verdade por vezes é efêmera e conveniente. Criamos nossas verdades para satisfazer as nossas consciências, para dormirmos tranquilos, termos a sensação de paz interior... 
Decretar a bondade ou a maldade das pessoas consiste em conhecê-las. Conhecer leva tempo, implica um trabalho árduo de avaliações, pesagens, medidas, audição, enxergagem*... Tem gente com quem se convive a vida inteira e não se conhece de verdade. Conviver só carece conveniência, não implica conhecimento. Em relação a mim, acredito que uma meia dúzia de pessoas me conhece, a maioria convive comigo e tem uma vaga ideia de quem sou. Muitas, muitas pessoas mesmo, criaram uma imagem alegórica e conveniente do que sou, pois seria trabalhoso me conhecer. Reconhecer-me ia requerer a quebra de alguns paradigmas antigos, poderia até causar revelações a quem o quisesse fazer, queda de máscaras e queda de verdades. Seria laborioso, careceria de tempo... Melhor continuarem achando que me conhecem, para o conforto de muitos, alguns bem próximos... Recomendo então: Vivam a fantasia, só não confundam viver com existir, ser bom com ser negligente, e ser mal com ser realista e fiel às suas verdades... Por fim, resolvi deixar de ser boa ou ruim: Resolvi ser eu mesma, apenas humana! 
Não se surpreendam se eu lhes machucar de vez em quando. Contudo, creio na bondade extrema e também na crueldade extrema. Creio nos santos e nos psicopatas, mas tentar revela-los fica para outra noite de insônia...


Enxergagem: definição minha para o ato de ver além das aparências.

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