segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Sobre ausência, memória, meu pai, os gays e Lampião... É muita coisa!!!

Entre outros incômodos noturnos, tem me atormentado um comentário veiculado no Facebook. Ando sem tempo para escritos, mas não posso deixar de me manifestar, pois não me manifestar me tira ainda mais o sono.
Dizia meu sábio e falecido pai que as ausências são sempre atrevidas, não assim tão bem portuguêsmente explicado, mas a essência era advertir para o fato de que é fácil falar de quem não está presente e não pode se defender.
O comentário era sobre o lançamento de um livro que contesta a masculinidade de Lampião, o “Rei do Cangaço”. Fiquei imaginado o quando ainda mais será necessário afirmar em relação a aceitação das diferenças humanas para que as pessoas se conscientizem de seu valor e deixem de tentar se afirmar revirando antigos baús em busca de provar que existem ilustres e famosos “jogando no mesmo time”. Lembrei-me de mim quando ainda obesa mórbida, pesando 106 quilos, pesquisava a todo custo as gordinhas que se diziam “gordas porém felizes”. Era uma luta incessante em busca da minha própria auto-afirmação. A sociedade cobra modelos esqueléticas e eu nem depois, da gastroplastia consegui ser magra... Continuo frustrada? Não. Apenas me aceito gorda, como tantos são negros, outros tantos são anãos, outros são de “duas rodas”, outros são judeus, palmeirenses... Podemos ser o que quisermos, o que a nossa natureza humana nos permite desde que isso seja bom para nós. Apenas deixemos de pensar que só podemos ser felizes de nos identificarmos com os famosos, assim estaremos reproduzindo a ditadura de que só é bom o que é lindo, famoso ou rico.
Tenho muitos amigos gays valorosos, honestos, revolucionários e tudo que todo ser humano de bem é, como todos a quem chamo de amigos. Gosto das pessoas que são e não do estereótipo do “eu sou assim mas sou”... Isso me irrita. Parece aquele chavão ridículo da televisão “sou pobre mas sou limpinha!”
Fiquei pensando no meu pai, como ele ficaria decepcionado com essa afirmação sobre Lampião e penso que o tempo do meu pai passou e sua memória ficou. Hoje todos os valores por ele ensinados se transformaram em generosidade para compreender e aceitar o outro me preparando para o fato de que somos todos vulneráveis à impermanência da vida e de seus cursos.
No tempo de hoje, que não é mais o do meu pai, os deficientes não são mais coitados, freqüentam escolas regulares, as pessoas do mesmo sexo casam, a AIDS tem cura, as mulheres dominam o cenário das grandes lideranças mundiais, existem ipads, tabletes e um Facebook que eu não domino e que os meus sobrinhos brincam intimamente. Eu poderia enumerar mil coisas diferentes, mas estou com sono...
Deixemos Lampião, Zumbi, Alexandre, Jesus Cristo onde sempre estiveram e vivamos, nos façamos amar independente das nossas opções.