Quantas vezes nos pomos a cismar com a vida e com todas a experiências que ela nos proporciona? Só mesmo compartilhando minhas cismas com outros cismadores para tentar entender a partir de outros pontos de vista os sentimentos que povoam nossa existência e nos fazem pessoas, profissionais: GENTE.
segunda-feira, 12 de outubro de 2020
Sobre o decreto 10.502, de 30 de setembro de 2020
sábado, 8 de agosto de 2020
Das dores que a gente permite que nos causem...
Depois de 15 dias meu filho dormiu a primeira noite parcialmente bem, e amanha é dia dos pais. Todo animado ele me acompanhou até a cidade para entrega de uns documentos e na volta para casa o comercio é nosso caminho... Passamos em frente a uma loja e eu fiz a avaliação visual da segurança do lugar, alinhada a decisão politica de ser cliente daquele estabelecimento. Num impulso e vontade de sermos iguais a toda família, lembrei a data comemorativa do domingo e Lucas se animou na empreitada de presentear o pai, ele merece! Achei vaga para estacionar pertinho, coisa rara! A compra segundo minha experiência na loja, não demoraria 15 minutos. Combinamos comprar um barbeador, dada a necessidade do item pelo pai. Daria tudo certo, apostei!
Entramos na loja, só tinha fila
para pagamentos. Máscara, temperatura medida e em menos de cinco minutos já havíamos
escolhido nosso item. Na hora de pagar, CPF informado, na loja é tudo digital e
rápido, a vendedora me tentou com um cartão da loja, visto que eu já era cliente
do site e gostava da comodidade de receber em casa sem frete e outras regalias.
Ela disse que era rapidinho, o cartão saia na hora e aquela compra já ia para
esse cartão. Fomos ao guiche: Demorou e eu questionei, a resposta foi que o
sistema caiu... depois demora para digitais... e eu olhava para Lucas já
impaciente, a máscara já tinha sumido do rosto e eu me agoniei... Alguns
minutos depois veio o cartão e o contrato para assinar. A atendente veio me
dando as explicações sobre os vinte e quatro reais mensais, quando eu perguntei
se tinha que pagar alguma coisa pois não fui informada dessa parte sobre o
cartão. “Então senhora paga só dez” e começou a falar de vantagens que eu já
não estava ouvindo mais, pois Lucas começou a se automutilar agredindo as
orelhas e eu sabia como isso ia terminar. Pedi que cancelasse o cartão e por
favor passasse no meu de sempre pois eu não podia mais esperar. Eu estava
apavorada! A atendente chamou a vendedora para me dar explicações sobre o
cartão, eu falei que não tinha mais tempo para ouvir, que cancelasse por favor,
e passasse logo minha compra que meu filho precisava ir para casa ele estava
entrando em surto. A vendedora me olhou como se nada tivesse acontecendo,
tranquilamente passou minha compra perguntou se queria dividir eu disse que
sim, só depois ela me disse que par dividir tinha juros. Pedi que não dividisse
então. Lucas começou a fazer os barulhos esquisitos, a agitação corporal e a
intensificar as mãos no rosto. Eu pedi pressa de vido à situação dele. A vendedora
me disse pronto, agora é só a senhora pegar aquela fila. Eu olhei para a fila e
tinha umas seis pessoas. Não ia dar!
Perguntei se tinha que pegar a fila mesmo pois eu já estava há muito tempo na
loja e meu filho está passando mal. Ela olhou para mim e disse sim, se a
senhora quiser levar o produto precisa pegar a fila.
Resultado: Meu marido ficou sem
presente e Lucas frustrado. A gente não teria tempo para aquela fila. Eu peguei
na mão dele e voltamos para casa. Acabou o sonho de ser igual!
O mundo precisa mudar muito para
que as famílias atípicas possam se sentir acolhidas. Meu sentimento é de
tristeza em saber o quando ainda temos que caminhar para que esse tipo de fato
não se repita. Falta conhecimento e muita empatia nas pessoas... As empresas
precisam investir na formação humana de suas equipes de olho na diversidade de
seus clientes.
Não culpo a vendedora, nem a
gerente, nem lhes quero mal! Quero apenas que possam refletir sobre o que
ocorreu e o que poderia ter ocorrido, para que nenhuma família precise passar
pelo que passei e nem sentir o que estou sentindo.
Eu tenho um único cartão, detesto
um monte de cartões! Eu só queria fazer Lucas se sentir bem naquela manhã,
comemorar agindo como os demais garotos da idade comprando algo para o pai, que
há dias como eu não dorme preocupado com o que esta acontecendo com Lucas que
tem deficiência intelectual e começou a apresentar um quadro psicótico...
Para que eu cai nessa cilada! O
que eu tinha que fazer em loja na insegurança que estava? Eu sou toda culpa!
quarta-feira, 5 de agosto de 2020
Dos acordos desfeitos dessa vida, imprevisível vida!
Eu tinha feito um acordo com a vida sobre a deficiência de
meu filho: Que eu não buscaria porquês, apenas faria o que fosse possível para
que ele tivesse uma vida feliz, para que ele pudesse sonhar e realizar esses
sonhos. Jurei fazer o que estivesse ao meu alcance para diminuir a distância
entre Lucas e as possibilidades que ele pudesse ter na vida, contornar ou
eliminar barreiras, bater de frente com pessoas e padrões, gritar quando fosse
preciso e ser branda na medida necessária para que todo o conhecimento que
eu acumulei sobre deficiência intelectual, aprendizagem e inclusão social
fossem importantes para o filho que eu pude escolher, assim como é importante para o filho de tantas mães como eu.
Mas é engraçado como coisas que aparentemente são modinhas e frases feitas se tornam realidades da metade em diante do dia... acredito que é do Veríssimo a frase “Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas.”
A vida mudou as perguntas para todas as respostas que eu tinha e a essa altura eu tenho que percorrer uns caminhos tão complexos e eu estou tão cansada!... Em menos de um dia o meu filho sumiu das minhas mãos, eu não sei como falar com ele, eu não sei como olhar para ele, eu tenho feito um esforço enorme para quebrar uma barreira entre meu filho e um estranho que habita o corpo dele, que me causa medo e me revolta!
Eu queria de volta meu doce menino, queria dormir em paz sem temer
pela vida dele e pela nossa! Já são tantas noites mal dormidas e não sonhadas! Eu queria não fechar os olhos e imaginar os olhos
dele tão parados e tão frios, presos e indolentes, perdidos num tempo e espaço
que eu tenho me esforçado para adentrar e fazer com que os olhos dele sigam meus
olhos, as mãos dele segurem as minhas mãos e fujamos de lá, de volta para a nossa vida
planejada, tão cheia de sorrisos, corridas, medalhas, troféus e viagens...
Eu estou com saudades e espero que meu filho volte! Eu não coloquei a doença mental no meu acordo de vida, mas eu vou ter que fazer novos acordos! Eu só preciso juntar os cacos e as forças para ajudar Lucas nessa batalha cruel que hora ele enfrenta com tanta vontade de ficar bem!
Que eu não seja a fraqueja no meio do caminho!