Depois de 15 dias meu filho dormiu a primeira noite parcialmente bem, e amanha é dia dos pais. Todo animado ele me acompanhou até a cidade para entrega de uns documentos e na volta para casa o comercio é nosso caminho... Passamos em frente a uma loja e eu fiz a avaliação visual da segurança do lugar, alinhada a decisão politica de ser cliente daquele estabelecimento. Num impulso e vontade de sermos iguais a toda família, lembrei a data comemorativa do domingo e Lucas se animou na empreitada de presentear o pai, ele merece! Achei vaga para estacionar pertinho, coisa rara! A compra segundo minha experiência na loja, não demoraria 15 minutos. Combinamos comprar um barbeador, dada a necessidade do item pelo pai. Daria tudo certo, apostei!
Entramos na loja, só tinha fila
para pagamentos. Máscara, temperatura medida e em menos de cinco minutos já havíamos
escolhido nosso item. Na hora de pagar, CPF informado, na loja é tudo digital e
rápido, a vendedora me tentou com um cartão da loja, visto que eu já era cliente
do site e gostava da comodidade de receber em casa sem frete e outras regalias.
Ela disse que era rapidinho, o cartão saia na hora e aquela compra já ia para
esse cartão. Fomos ao guiche: Demorou e eu questionei, a resposta foi que o
sistema caiu... depois demora para digitais... e eu olhava para Lucas já
impaciente, a máscara já tinha sumido do rosto e eu me agoniei... Alguns
minutos depois veio o cartão e o contrato para assinar. A atendente veio me
dando as explicações sobre os vinte e quatro reais mensais, quando eu perguntei
se tinha que pagar alguma coisa pois não fui informada dessa parte sobre o
cartão. “Então senhora paga só dez” e começou a falar de vantagens que eu já
não estava ouvindo mais, pois Lucas começou a se automutilar agredindo as
orelhas e eu sabia como isso ia terminar. Pedi que cancelasse o cartão e por
favor passasse no meu de sempre pois eu não podia mais esperar. Eu estava
apavorada! A atendente chamou a vendedora para me dar explicações sobre o
cartão, eu falei que não tinha mais tempo para ouvir, que cancelasse por favor,
e passasse logo minha compra que meu filho precisava ir para casa ele estava
entrando em surto. A vendedora me olhou como se nada tivesse acontecendo,
tranquilamente passou minha compra perguntou se queria dividir eu disse que
sim, só depois ela me disse que par dividir tinha juros. Pedi que não dividisse
então. Lucas começou a fazer os barulhos esquisitos, a agitação corporal e a
intensificar as mãos no rosto. Eu pedi pressa de vido à situação dele. A vendedora
me disse pronto, agora é só a senhora pegar aquela fila. Eu olhei para a fila e
tinha umas seis pessoas. Não ia dar!
Perguntei se tinha que pegar a fila mesmo pois eu já estava há muito tempo na
loja e meu filho está passando mal. Ela olhou para mim e disse sim, se a
senhora quiser levar o produto precisa pegar a fila.
Resultado: Meu marido ficou sem
presente e Lucas frustrado. A gente não teria tempo para aquela fila. Eu peguei
na mão dele e voltamos para casa. Acabou o sonho de ser igual!
O mundo precisa mudar muito para
que as famílias atípicas possam se sentir acolhidas. Meu sentimento é de
tristeza em saber o quando ainda temos que caminhar para que esse tipo de fato
não se repita. Falta conhecimento e muita empatia nas pessoas... As empresas
precisam investir na formação humana de suas equipes de olho na diversidade de
seus clientes.
Não culpo a vendedora, nem a
gerente, nem lhes quero mal! Quero apenas que possam refletir sobre o que
ocorreu e o que poderia ter ocorrido, para que nenhuma família precise passar
pelo que passei e nem sentir o que estou sentindo.
Eu tenho um único cartão, detesto
um monte de cartões! Eu só queria fazer Lucas se sentir bem naquela manhã,
comemorar agindo como os demais garotos da idade comprando algo para o pai, que
há dias como eu não dorme preocupado com o que esta acontecendo com Lucas que
tem deficiência intelectual e começou a apresentar um quadro psicótico...
Para que eu cai nessa cilada! O
que eu tinha que fazer em loja na insegurança que estava? Eu sou toda culpa!
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