segunda-feira, 11 de março de 2013

Por que nos tornamos monstros quando estamos na direção de um carro?


Ouvi esta pergunta em vários noticiários de hoje, quando se comentava mais um acidente de transito que vitimou um ciclista. Em minhas andanças pelas estradas brasileiras e nas cidades em que costumo dirigir, já me fiz essa pergunta várias vezes, quando fui brutalmente agredida no transito por motoristas impacientes, inconsequentes, irresponsáveis... A violência não se caracteriza só pelo acidente em si, mas pela forma como se trata o motorista ao redor: xingamentos, pressão para ultrapassar, farol alto para dizer sai da frente que minha camionete vai passar por cima de você, buzinaço para advertir que sou maior, mais possante ou mais brutal! Isso assusta, intimida e com o tempo também embrutece... Vejo pessoas delicadas em uma conversa comum, repetindo essas agressões, o corpo apresenta um tono diferente, uma aspereza nas palavras, umas rugas grosseiras no rosto, um escurecimento da aura. Às vezes me vejo embrutecida com a irresponsabilidade do outro: parar em mão dupla ou no meio da rua para bater papo, “passear” lerdamente enquanto o resto do mundo tem pressa... Eu tenho pressa, eu tenho horário, eu preciso chegar!
Êpa! De onde veio nesse momento essa minha irritação? Respirando...
Vamos parar um pouco inclusive eu, que não sou santa, e chegada à velocidade, sempre com “muita segurança”... Vamos pensar no que nos faz monstros em várias situações, já que os padrões de comportamento humano geralmente se repetem, não há regras, mas há recorrência.
Pensemos no ser humano nas situações de poder, pois acredito que estar no poder é muito responsável pela sensação de onipotência desenvolvida instantânea e também efemeramente em nós, seres humanos. Já dizia Abraham Lincoln: "Quase todos podemos suportar a adversidade, mas se quereis provar o caráter de um homem, dai-lhe poder." Pensemos superficialmente em casos atualmente na mídia: O que levou o goleiro Bruno a deixar que Elisa morresse? O que leva a maioria dos políticos a praticar seus atos de corrupção? O que leva os donos de estabelecimentos públicos a não seguirem as Normas Técnicas para edificações e colocarem a nossa vida em risco? Penso que é a sensação de poder nutrida por todos. O poder nos faz sentir acima dos demais seres humanos, inatingíveis, intocáveis, inalcançáveis pelas mazelas, pela justiça, pela doença...
Mais uma vez e como professora, penso na educação, temos que pensar a educação das pessoas e também educar para a possibilidade de ter... Alguns de nós já se preocupa em educar o ser...agora educar o ser consiste em educar a possibilidade de ter, já que vivemos num país onde um operário chegou á Presidência da República e centenas de garotos esperam uma chance para virar milionário no futebol... Alguns ficarão ricos, alguns chegarão ao poder... Outros já nascem ricos nesse país nem por isso o poder lhes deixa de fazer a cabeça... Conseguimos o direito de dizer o que queremos, de fazer o que achamos conveniente, quando aprenderemos a lidar com o poder?
Não tenho a pretensão de dar respostas e quem sou eu para dar as respostas?... Apenas aprendamos a controlar o nosso poder, acendamos a nossa luz amarela interior quando o nosso “poder” estiver tão grande, tão forte, tão descontrolado a ponto de nos transformar naquilo que não queremos ser: monstros, destruidores de nossa própria raça! Você já mediu seu poder hoje? Não adianta dizer-se sem poder, abaixo de alguém, sempre tem alguém se sentindo nada, inferior, é dai que vem a força do poder... Encontremos o equilíbrio! Rezo por todos e por mim... Que nossa bicicleta não seja a arma contra o pedestre. Que nossa moto não seja a arma contra o ciclista, o skatista e o pedestre. Que nosso automóvel não seja a arma a tirar a vida de todos os outros condutores que parecem menos poderosos que nós. E que ninguém se sinta mais poderoso que nós a ponto de se achar no direito de tirar nossa vida!